- Sim, sou eu. Respondeu ela com uma vez encomodada.
- Pode entrar, o Dr. está aguardando.
- Droga! Nem deu tempo de ler a revista.
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- Olá Clarisce, tudo bem?
- Acho que não né, já que estou aqui. Respondi com um irônico sorriso no rosto.
- Entendo.
Bem, já sei seu nome e que você não está bem, então, me dia mais de você agora, qualquer coisa, o que você sentir vontade de falar, quero te deixar bem tran...
- Olha, pode ir parando. já vou logo lhe adiantando que não estou nenhum pouco afim de conversar, não mesmo. Tenho sim os meus problemas, que por sinal não são poucos e não estou bem, mas se nem eu consigo consertar a desordem que virou a minha vida, não será você um desconhecido que irá fazer isso em alguns minutos. Não é de forma algum desprezando seu trabalho. Reconheço que têm o seu valor e que para algumas pessoas é bastante útil, mas eu precisaria de um pouco mais.
E antes que pergunte que diabos estou fazendo aqui, eu lhe adianto que só vim porque meu marido e meus filhos não me suportam mais e colocam a culpa na minha cabeça, jugando-a herroniamente de louca. Eu não estou louca nem tampouco pertubada. Não estou mesmo. Só que chega um ponto em que não conseguimos mais fingir, simples assim. O balde fica debaixo de uma goteira durantes horas e horas intacto, mas em algum momento uma simples gota o fará transbordar. É assim que é. E talvez tenha sido isso que aconteceu.
Então podemos passar esse tempo em silêncio, só para eles acharem mais uma que resolveria. A consulta dura 40 minutos não é?! Ótimo! vai dar pra ler a revista.
E o senhor deve ter ser seus afezeres também, não é mesmo? Então fiquei a vontade.
Abaixou a cabeça e começou a ler a revista entertidamente.
O médico pasmo, não sabia o que dizer e ao mesmo tempo sabia que precisa dizer algo, precisava contornar aquela situação, mas como ?
( 10 minutos depois..)
- Clarisce, vc se ama?
- Como? não estava brincando, eu quero mesmo ficar em silêncio. Pago mais por isso se for preciso.
- Não se trata de dinheiro. É simples, você se ama?
- Sei lá. E abaixou rapidamente a cabeça.
- Venha comigo Clarisce, vou te mostrar algo..
- Mas essa agora. Disse ela irritada.
- Olhe. Gosta do que ver? Aliás me diga primeiro o que você ver..
( 5 minutos depois...)
- Uma velha de 30 e poucos anos, com a alma de 80. Um rostro triste e amargurado. E não, eu não gosto do que vejo, mas não me importo.. não mais.
- Não. Isso é o que você quer ver. O que você faz esforço pra ver. Porque assim é mais fácil encarar a realidade. Você não me disse uma palavra diretamente, mas ao explicar seus motivos pra não conversar comigo me confessou muito mais do que imagina. Você não é tão triste como faz esforço pra ser. Vejo um brilho nos seus que poucas pessoas são capazes de carregar. Mas você veste essa mascara de triste e sofrida pra poder esconder as marcas que a vida deixou, e não é assim que devia ser. Não podemos nos trancar parar a vida e simplesmente esperar ela passar. Você não é feliz, adimata isso pra você. Aí dentro. Larga tudo que te desagrada, tudo, e vai buscar o que te fazer sorrir verdadeiramente. E aí sim me diz o que vê ao olhar-se no espelho.. é só isso que te peço.
- Doutor, eu..
- Seu tempo acabou Clarisce, preciso atender meus outros clientes. Boa tarde e fique bem.
e não é isso que quero ver no meu espelho.
Bom texto! :)
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