Sabe aqueles dias em que nada pode aborrecer? aquela terça-feira foi assim.
Não digo que estava feliz, mas estava bem.. com o coração contente e a cebeça tranquila.
Foi com esses sentimentos que entrei no ônibus de volta pra casa. Como de costume ele tava lotado, se fosse outro dia aquilo já teria me aborrecido, mas aquela noite não. Por falta de espaço fiquei bem próxima de um senhor que ocupava o assento de cadeirantes. Era um homem como qualquer outro, não apresentava nenhuma deficiência, não essas que os olhos são capazes de enxegar. Ele estava sujo e mal vestido, mas isso não me chamou atenção a princípio.
   A cada freiada do ônibus eu o empurrava um pouco. Já estava ficando envergonhada com isso. A primeira vez eu pedi desculpa, a segunda também, a terceira eu fingi que não vi por vergonhar de me desculpar novamente. Foi ai que o empurrei de novo, sem graça olhei para ele e disse: " - Desculpa moço, toda hora eu empurro você." e ele humildimente respondeu: " - Não, que isso! Só cuidado pra não sujar sua bolsa."
em resposta simplesmente sorri e disse que não havia problema.
   Com essa frase eu comecei a observá-lo e vi que ele estava realmente bastante sujo de graxa.Não sei se lhe passei humildade ou coisa do tipo, mas por algum motivo começou a falar comigo e eu educadamente o respondia. Ele me disse que outro dia havia pego esse ônibus e sentado-se ao lado de uma moça mais ou menos da minha idade. E que ela levantou-se do lugar reclamando da "sujeira" dele logo após ele se sentar. "Tudo bem, eu estava sujo, mas não é vergonha andar sujo de graxa. Trabalho das 8hs as 21hs todos os dias, ando sujo sim, mas é assim que consigo sustentar minha filha. Não tive condições de estudar. Meu pai dizia: faz medicina meu filho, faz medicina... eu entendi errado fiz oficina e deu nisso. Mas não me envergonho não." disse ele, olhando pra mim com um sorriso no rosto.
   Meu coração doeu naquela hora, não sabia nem o que responder a ele. Vi em seus olhos que mesmo diante de tantas dificuldades, ele era feliz e se aceitava assim como era. Me senti um nada diante dele. Tenho tudo e muitas vezes não dou valor nas coisas. 
Continuamos conversando até chegar ao terminal. Ele me contou de sua filha, disse que ela tinha sete anos e que sempre o esperava chegar do serviço acordada. E que ele tinha que passar em algum lugar e comprar um refrigerante pra ela, acho que já era costume, todos os dias ele fazia isso e ela sempre esperava.
   Enfim chegamos ao terminal, antes de descer ele disse: " Boa noite moça, foi um prazer.. vou até pegar na sua mão." e estendeu a mão toda suja de graxa. Comprimentei-o e despide-me com um singelo sorriso. Desci do ônibus e fui embora com a sensação de que fiz alguma coisa boa pra alguém.
   Aquele senhor, do qual nem sei o nome, é simplesmente mais um ser humano, que as vezes só precisa de um pouco de atenção e carinho. Tenho certeza que fiz bem pra ele, só pelo fato de ouvi-lo e não simplesmente julgá-lo por estar sujo. Me senti recompensada quando ele me estendeu a mão, mesmo envergonhado por ela estar suja. E só conseguir pensar naquela pobre moça que prefiriu vê-lo como um deficiente, um dejeto da sociedade, como alguem sem condições de sentar-se ao seu lado.. e ele era apenas um ser humano. Suja está a mente dela que não consegue enxegar além do que os olhos são capazes de ver. Os olhos muitas vezez nos enganam e nos deixam cegos diante do que realmente é importante, mas o coração não. Ele sim é capaz de ver muito mais e enxergar que a vida vai além do que se vê.
Fui embora dali pedindo a Deus que o protegesse e permitisse que fosse muito feliz!


AI SIIIIIIM, VALORIZEI.
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